Eu na fotografia junto com a Mulher do campo, pedagoga por formação, nascida na cidade que leva o nome de uma grande lutadora - Anita Garibaldi, município da serra catarinense -, ela tem o nome comum ao de muitas mulheres. Severine Carmem Macedo completou 30 anos no dia 25 de julho, data em que se comemora o dia do trabalhador rural, uma das bandeiras que, ao lado da Juventude, é defendida por ela.
Na entrevista, ela fala de sua trajetória de militante até a chegada à Secretaria Nacional de Juventude do Governo Federal.
Leia abaixo a íntegra da entrevista:
ADEILSON NENEM: Como você descreve sua trajetória desde a militância no campo?
Severine Macedo: Participei da pastoral dos 12 aos 16 anos e, como era um município agrícola, a nossa ação principal eram voltada aos jovens do campo. Nesse período (1997), conseguimos disputar o Sindicato dos Trabalhadores Rurais que tinha uma linha muito conservadora. Conseguimos levar a CUT (Central Única dos Trabalhadores) para lá e filiar o sindicato à Central. Quando fiz 17 anos assumi a Coordenação dos Jovens da Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Santa Catarina (Fetrafesc/CUT).
Em 2005, com a fundação da Fetraf-Sul/CUT, fui para direção executiva da entidade e também assumi a coordenação da Fetraf-Brasil/CUT. Por conta desta atuação nacional, fui convidada a compor o Conselho Nacional da Juventude pela Fetraf.
Sou filiada ao Partido dos Trabalhadores desde os 16 anos. Com minha atuação comecei a acompanhar outros movimentos e entender melhor as pautas da juventude, para além da pauta dos jovens do campo. Também participei do coletivo de juventude da CUT.
Em 2008, todo cenário político da juventude petista me levou a disputar o primeiro Congresso Nacional da Juventude do PT. Assim, assumi a Secretaria Nacional da Juventude do Partido. Foi a primeira vez que eu saí do Sul, efetivamente, e da agricultura familiar para tocar uma tarefa nacional.
O ministro Gilberto de Carvalho me convidou, no início de 2011, para assumir a Secretaria Nacional de Juventude do Governo Federal.
ADEILSON NENEM: E como avalia essa experiência?
SEVERINE MACEDO: Ainda acontece uma adaptação. Primeiro você não tem experiência de gestão e o desafio é conhecer o funcionamento da máquina pública. Antes eram outras pautas, reivindicações, mobilizações e organização de bases. Os espaços da juventude sempre foram muito disputados, no bom sentido.
A gente [da SNJ] aposta que a construção política da juventude precisa ser feita com participação social. Foi um desafio aprender a conciliar um espaço que exige muita participação, relação com a sociedade civil organizada. A grande tarefa da Secretaria é coordenar e articular a política nacional de juventude, ação entre os ministérios, pautar a juventude em todas as agendas e conciliar as ações entre estados e municípios.
A gente quer reforçar que o tema da juventude tenha mais visibilidade na sociedade, nos governos, porque foi um dos últimos segmentos específicos a ter políticas direcionadas. Ainda tem um setor muito conservador da sociedade que acha que a juventude precisa ter deveres e não direitos, um exemplo muito concreto: a discussão do Estatuto da Juventude no Congresso Nacional, que ressuscitou o conservadorismo, questionando esse papel do estado como indutor de política pública e questionando seu papel para juventude. É por isso que o jovem tem que se doar na sociedade e não ter contrapartida. A juventude é uma população que tem um peso demográfico e temos que fortalecer seu peso econômico, politico, cultural e social.
ADEILSON NENEM: Quais destaques dos governos Lula e Dilma nas políticas públicas para a Juventude?
SEVERINE MACEDO: Um ponto positivo do governo Lula foram as políticas para a juventude, que tiveram um foco muito forte na inclusão. Isso balizou o ProJovem como puxador da política nacional, a pensar políticas direcionadas aos mais vulneráveis e a realizar a primeira Conferência. Um conjunto de pesquisas apontava quais eram as demandas: a própria construção do conselho, de reformulações do Conjuv, mas sem dúvida a primeira conferência foi um marco no sentido da definição das grandes bandeiras e que permitiu ao governo reforçar o olhar para a juventude.
Já no governo da presidenta Dilma, no qual temos ousado chamar de segundo ciclo da política, continuamos trabalhando nesse viés. É a primeira vez que conquistamos um programa de juventude no PPA [Plano Plurianual]. Antes, o ProJovem estava no Plano, mas não no conjunto de ações integradas. O desafio é, de fato, implantar do ponto de vista da necessidade dos jovens um projeto na qual permita conciliar trabalho, educação, vida familiar e tempo livre. Além da precarização do combate a informalidade, das diferenças salariais que ainda são fortes entre mulheres e jovens.
ADEILSON NENEM: E as agendas da SNJ?
SEVERINE MACEDO: Vamos lançar neste semestre o [Programa] Participatório, que é um observatório participativo da juventude. Queremos aumentar a capacidade da SNJ de produzir conteúdo, de indicadores e a produção sobre o tema. A ideia é que os jovens tenham um espaço virtual e também algum espaço físico para fazer discussões sobre o conteúdo dos temas prioritários para a juventude brasileira. O primeiro tema, por conta da demanda da primeira e da segunda conferencia, é a violência contra a juventude negra.
Nós mapeamos no Brasil 132 municípios que representam 70% dos homicídios juvenis e a agenda vai ser debruçada sobre eles. Esse é um conjunto de ações de garantia de direito dos jovens que vamos organizar nesses territórios, com cultura, esporte, educação, trabalho e renda, economia solidaria. Outra prioridade é a criação do comitê interministerial que será lançada no mês de outubro. Ele vai garantir um mecanismo concreto na articulação da política nacional de juventude e conferir as respostas do monitoramento das resoluções da segunda conferência. Nós não queremos construir uma terceira conferencia sem dar respostas para o que foi decidido na segunda. A participação social da juventude tem que ser real, tem que ser subsídio concreto para que a gente consiga atualizar a política, então essa é a nossa prioridade para esse ano.
ADEILSON NENEM: O que você destacaria de ação concreta na Rio+20, que teve grande participação da Juventude?
SEVERINE MACEDO: A criação do Fórum de Juventude da ONU é fundamental e não pode ser deixada para daqui dez anos. Nós temos cerca de dois milhões de jovens no mundo e a tendência geral dos países em desenvolvimento é inversão da pirâmide demográfica e o investimento bem concreto em educação, em trabalho e renda para a juventude.
ADEILSON NENEM: Há uma década o PT está à frente do governo federal. Qual o balanço você faz das políticas públicas de juventude nesse período?
SEVERINE MACEDO: Primeiro, o estado passou a olhar a juventude. É um dos pontos positivos. Além disso, o olhar da institucionalização de uma Secretaria não é para burocratizar, é para criar condições para que o trabalho aconteça. Essa inversão do olhar do estado foi fundamental.
Segundo, acho que a criação de alguns programas que deram mais visibilidade à juventude é outro avanço. Eu cito, como exemplo, o ProJovem. Outro ponto positivo foi à questão da participação, que nasce como base da política e isso está permitindo avançar.
Nós sabemos que temos ainda muitos jovens fora da escola, especialmente, em idade de ensino médio e o desafio da nossa pauta hoje é a questão da revisão do ensino fundamental. Cerca de 48% dos alunos de ensino médio estão fora da escola. O nível de defasagem é muito grande. O Prouni deu ao estado a chance de ampliar o acesso ao ensino superior no país e ainda tem as cotas. Além da expansão da escola técnica, do Reuni nas universidades federais, e muitos outros.
ADEILSON NENEM: Como é ser uma mulher hoje na SNJ?
SEVERINE MACEDO: Ser uma mulher na SNJ é um desafio. Não somos uma cambada de meninas e meninos que não sabem o que querem da vida. Sabemos o que queremos e isso nos faz ter responsabilidade.
Tenho um grande apoio do Governo Federal. Estamos em um espaço bom para fazer política, no melhor sentido. Podia ser eu, como poderia ser outra mulher ou outro jovem. Quando fui secretária da juventude do PT, também foi a primeira vez que uma mulher, do setor rural e que não veio do movimento estudantil, ocupou o cargo. Foi uma quebra de paradigma. Acho que isso ajuda para que esses espaços fiquem mais diversos e isso é um orgulho.
ADEILSON NENEM: Os jovens estão preparados para ocupar cargos públicos?
SEVERINE MACEDO: Acho que a juventude já deu exemplos concretos que tem condições de dirigir o país. Isso é participação política, protagonismo. Nesse sentido o Conselho é um grande instrumento de participação, inclusive tem ajudado a organizar toda a rede. Já tivemos três encontros nacionais que envolveram os conselhos municipais e estaduais. Além de fortalecer os existentes, o próprio Conjuv ajudou a expandir de fato a capacidade dos conselhos e a fazer uma avaliação permanente do seu alcance e da sua eficácia.
Tem aquela receitinha básica que continua valendo muito hoje em dia: estado forte, governo comprometido e povo organizado. Para conseguir avançar nas conquistas, a juventude tem que estar dirigindo os espaço
ADEILSON NENEM: E o Pacto pela juventude?
SEVERINE MACEDO: O Pacto é simbólico. Ele traz formulações que a própria Conferência já fez. Acho que uma grande iniciativa do CONJUV e da sociedade civil é fazer com que os candidatos parem e escutem a juventude. Isso faz com que eles possam apresentar as suas propostas e se comprometer com isso. Tudo isso que está aqui é exequível, então é uma ação muito importante. Mas, mesmo assim, nós precisamos discutir reforma política, pois toda discussão de participação da juventude tem limite. Existem setores da sociedade que dizem que a juventude não gosta de política, porque a política é suja. Contudo, tem muito jovem que ainda gosta. Eu acho que a reforma política pode ser uma boa forma de melhorar isso.
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